O empenho em tomar a residência unifamiliar moderna e contemporânea como objeto empírico em uma pesquisa sobre as relações entre história e projeto na formação do arquiteto baseia-se na constatação de que embora a importância deste programa tenha sido repetida à exaustão ao longo do século XX, os resultados parecem girar sobre informações similares, confirmando dados conhecidos e, raras vezes, apresentando argumentos que incidam em novas questões.
Situação: Em andamento
Integrantes:
Carolina Marques Chaves Galvão
Linha de Pesquisa:
Arquitetura Moderna e Contemporânea: historiografia e projeto
linha de pesquisa - arquitetura e moderna e contemporânea: historiografia e projeto
A dinâmica das transformações constantes no modelo familiar que redundou em distintas exigências de caráter técnico, social e econômico ao longo do século XX e início do século XXI, alterou decisivamente o espaço doméstico em vários aspectos. Pode-se destacar, por exemplo, (1) a relação do edifício com o lote, que enfrentou mudanças balizadas, em grande medida, pelos avanços das medidas urbanas de cunho higienizador entre o final do século XIX, inícios do XX, (2) o agenciamento dos espaços externos à habitação, devido à incorporação definitiva do automóvel no primeiro quartel do século XX, (3) e o desenvolvimento crescente de equipamentos industrializados e eletrônicos a partir da segunda metade do século XX. Centro nevrálgico de repercussão das transformações em curso, a casa foi o móvel, por excelência, de experimentação arquitetônica, tendo papel vital no conjunto da obra de arquitetos do porte de Le Corbusier, Wright, Mies, Loos, Aalto, Schindler, Breuer, Prouvé, Neutra, Kahn, Artigas e Levi entre outros.
Para esses arquitetos, o projeto da casa unifamiliar não serviu unicamente como espaço de especulação e experimentação de soluções para problemas inerentes a este programa, possibilitou também a exploração das soluções bem sucedidas em programas mais complexos e de maior escala. Pode-se afirmar que a potente estrutura do Crown Hall, projetada por Mies van der Rohe já estava presente na Casa Farnsworth e que a lógica pavilhonar das casas Adler e DeVore de Kahn foi reproduzida em altura no Laboratório Richards da Universidade da Pensilvânia, ou ainda que a espacialidade alcançada na FAU-USP por Artigas e Cascaldi resultou de uma longa e larga experimentação com residências levada a cabo por ambos desde os anos 1940.
Face a essa importância, a casa unifamiliar – entendida como programa fundamental ao longo do século XX –, foi convertida em objeto empírico dessa pesquisa sobre as relações entre a história e o projeto na formação do arquiteto, centrada na análise do projeto, por meio de registro gráfico, modelagem física e digital, leitura e análise comparativa. Essa temática será abordada, através do estudo de casos exemplares projetados e construídos ao longo do século XX sob o manto da Arquitetura Moderna, ou já nas últimas décadas sob o rótulo, devido à proximidade temporal, de Arquitetura contemporânea.
Não se pretende de forma alguma definir as possíveis características generalizáveis da Casa Moderna ou da Casa Contemporânea, mas todo o contrário, o interesse – ditado pelas diferentes leituras propostas e pela singularidade das comparações – é pela diversidade e pelas especificidades que marcam o universo de compreensão destes objetos. O que se pretende alcançar é uma espécie de fio condutor que marque a pesquisa com uma visão da teoria e da história, que parte necessariamente de um conhecimento profundo e rigoroso dos projetos e das obras e que caminhe em direção a proposta de projeto de arquitetura para, junto a subsídios de outras fontes, dar consistência as decisões tomadas. Evitando assim, os rótulos fáceis ou as curiosidades agradáveis que pouco ou nada contribuem para a compreensão das obras pesquisadas.
Essa pesquisa parte do pressuposto de que as diversas formas de análise gráfica conformam instrumentos importantes para interação entre os conhecimentos de teoria/história e o projeto de arquitetura. Ancorados nesse pressuposto e buscando caminhos que conduzam a essa interação passou-se a investigar as experiências que tratam do tema, relações entre história e projeto, centradas em análises gráficas.